hoje eu pensei o quão irônico é eu gostar tanto de cartas, fotos impressas e outras formas de conteúdo analógico, ao mesmo tempo que escrevo em um blog no bloco de notas de meu pc, e gosto tanto quanto. acho que é como uma versão primitiva de redes sociais mesmo, a edição em html de uma página, uma coisa meio feia e crua, cheia de marcações. é meu diário virtual. pra quem não sabe, blog vem de web log! legal, né?

estou em constante estado de ansiedade ultimamente... sinto que tenho tantas coisas a lidar paralelamente, e não sei se consigo sozinha. não que eu precise de ajuda para resolver, eu só queria um lugar, uma pessoa, em que eu me sentisse confortável o suficiente para simplesmente chorar e colocar tudo isso pra fora. é injusto eu me sentir assim. objetivamente, existem pessoas ao meu redor que me amam e me querem bem, e que estarão aqui pra mim quando eu precisar, muito mais do que eu merecia. e por que me sinto assim? é um pouco de ingratidão talvez. só não consigo me abrir totalmente.

anteontem, em um pequeno surto de ansiedade por me sentir sem controle das coisas, decidi arrumar todos os meus pertences. achei meus dois diários, sendo o primeiro de 2018 à 2020, e o segundo de 2020 à final de 2021. parei por quase um ano e meio de escrever depois disso, talvez por estar em um espaço mental bom. na metade do ano passado, as mesmas coisas de sempre voltaram a me assombrar, e voltei a escrever (com menos frequência que antes, mas ainda...). a primeira entrada de todas é eu falando sobre como sabia que gostava de garotas desde 2016 e como isso me atormentava. agora, olhando pra trás, me dá um pouco de dó. as próximas desse diário prosseguem num tom meio adolescente recém-politizada cringe, misturado com um desespero de me sentir incompreendida e sozinha. tem alguns outros eventos canônicos narrados: dia que me assumi pra minha mãe, primeira vez que não conta, desilusões amorosas, fase bissexual, uma das duas vezes que "troquei" o p***** por uma garota que eu estava apaixonada, intercâmbio, depressão diagnosticada, primeira vez de verdade, primeiro início de namoro que ainda não era namoro e ainda era proibido dizer que eu amava mesmo tendo certeza há meses. enfim, coisas da vida!

o segundo diário é muito mais introspectivo, bem menos narrativo. é a fase da depressão diagnosticada porém tratada. não ironicamente, apesar da real ameaça de suicídio e a dor avassaladora que eu sentia diariamente, foi quando mais me conectei comigo mesma e pude me expressar e ser criativa. escrevi muito, do meu diário à reflexões à poesia. também me arrisquei a compor uma música. tirava muitas fotos na minha câmera. fiz presentes criativos. engraçado, naquela época eu me sentia mal porque ela havia composto música e escrito poesia pra outra no passado, e nunca pra mim, mas agora eu entendo. não posso cobrar muito de mim mesma aos 16 anos com alguém que já estava na faculdade, mesmo que a diferença de idade fosse pouca. enfim, sobrevivi. mas ler tudo isso me deixou num estado de instrospecção novamente. minha mente age em ciclos de 1 a 2 anos, as mesmas coisas sempre voltam, os mesmos padrões sempre se repetem. enfim, esse não li tanto, muito texto. o que tirei disso? também não sei. lembranças apenas, nenhuma lição. ah, na verdade, agora que já estou me expondo, consegui tirar uma dúvida sobre minha libido antes e depois do anticoncepcional e antidepressivo, mas só isso também. mulheres, depressão, solitude, pequenas felicidades. tudo em círculo.

não parece que foi minha vida. não tive muitas mudanças significativas na minha, na verdade, consigo traçar 3 estágios: até meus 17 anos, morando com minha família em minha pequena cidade, sempre estudando no mesmo colégio e tendo as mesmas pessoas ao meu redor; daí aos meus 20, morando em uma capital com minha namorada, mais liberdade e responsabilidades, na universidade, tendo contato com pessoas diferentes; e agora, que tudo isso que construi nos últimos 2 anos e meio aqui se foram, e tive que ter um pequeno recomeço, que também não irá durar muito, visto que em três meses tudo isso fica para trás novamente e tão rapidamente começo um novo estágio, sendo que nem consegui processar os dois últimos. nessa atual etapa, tenho um poço de sanidade, que tem uma pequena sobreposição na outra etapa que também me garantiu sanidade por muitas semanas sem ao mesmo saber. não sei se ela sabe o quanto ela me faz bem. tudo fica mais tranquilo e qualquer preocupação e ansiedade parece ser possível de lidar. mas ainda, será que posso me apoiar e baixar minha guarda? o tempo está correndo e essa resposta está chegando mais perto. mas de alguma forma, não consigo deixar.

eu só queria ser eu. e ser colocada no mundo. ter algo para mostrar. quero me sentir amada e amar. queria que em algum momento as coisas pudessem ficar mais fáceis. o tempo passa, as coisas se repetem, cada vez em um espaço mais curto. queria ser reivindicada. não sei o quanto mais aguento estar às sombras em tudo. o tempo vem chegando e não sei mais para onde correr e o que fazer e com quem contar. o que é melhor pra mim? meu deus, como vou sentir falta das árvores e das plantas e desse céu e desse mar e das pessoas e dos lugares e dos cheiros e dos toques. tudo me aperta, me corrói, me angustia e não consigo fugir. estou num lugar vazio gritando e gritando e não tem ninguém. sou a única para mim mesma.